Monalisa, Venus de Milo e… Coldplay
Entao, o Louvre. Fiquei cinco horas e doze minutos dentro do museu, e sai com a sensacao de que soh aproveitei 10% dele. Estou tentando lembrar onde li que sao 11 quilometros de exposicao, e se nao for isso, vou te dizer, esta perto. Mas o problema nem é a caminhada, mas que arte é algo para se namorar, ficar olhando, admirando, sem se preocupar com o que voce vai deixar de ver. Porém, no Louvre, se voce nao ver as coisas rapidamente, vai deixar de ver um monte de coisas…
O mais engracado é que sempre fiz parte do grupo de pessoas que batalha para a expansao da arte, para que todo mundo ouca as melhores musicas, veja os melhores filmes, leia os melhores livros, mas entao voce entra no Louvre com aquele mundareu de gente, e pensa que vai ser impossivel aproveitar com calma o passeio. Tipo, a Monalisa: ninguem pode dizer que viu a Monalisa. Primeiro que ela fica uns dez metros do publico protegida em uma redoma (apos um atentado a faca). Segundo que é uma muvuca…
Ou seja: as pessoas estao ali para olhar o quadro e riscarem na caderneta: “vi a Monalisa, proximo item”. Nao ha como tentar interpretar o sorriso da moca, perceber as pinceladas do Leonardo, admirar o quadro com toda calma que ele merece. Sentar uns quinze minutos em frente a ele como fiz com o Hopper na Espanha. Como dizia a Luiza, minha professora de Educacao Moral e Fisica no colegial, “as pessoas veem, mas nao olhar; falam, e nao dizem; tocam, e nao sentem; existem, e nao vivem”. Em parte, a Luiza estava certissima…
Eh claro que esse distanciamento soh acontece nas duas obras mais famosas do museu, aquelas que um mundo de pessoas quer ver: Monalisa e Venus de Milo. As demais estao ao alcance dos olhos e das maos (literalmente) e a badalacao em torno delas é aceitavel dado o porte do Louvre, um museu com um acervo de mais de 350 mil objetos de arte, e que em 2007 foi o museu mais visitado do mundo com a marca impressionante de 8,3 milhoes de pessoas.
E, na boa, soh o Palacio do Louvre ja valeria uma visita. Construido em 1190 como Fortaleza por Filipe Augusto, parte dele virou museu em 1793, com a Revolucao Francesa. Napoleao, sempre ele, adaptou o lugar como museu. Alem dos tres pavimentos de obras classicas que abrangem antiguidades egipicias, romanas, gregas e orientais ate pinturas e esculturas italianas, francesas e holandesas, ha ainda parte dos aposentos de Napoleao III tal qual eram na epoca, e que por si soh ja fazem o queijo da gente cair (foto 1, 2 e 3).
Das obras, os franceses me impressionaram muito com Prud’Hon (“L’Enlevement De Psique”), Gericaut (“Le Radeau de La Meduse”) e Delacroix, que um quadro antes tinha me chamado a atencao: “Nossa, lembra a capa do Coldplay”. Nao era ele, era o seguinte, “Le 28 de Juillet, La Liberte”. Chris Martin é um coxinha, mas tem bom gosto. Ainda teve Chasseriau, que com sua “Suzanne au bain” balancou meu coracao, mas no quesito musa, vou sonhar com Drost e sua “Bethsabee”.
Dos holandeses, nao me odeiem, mas curti muito mais os dois Vermeer do que todos os Rembrant. E dos italianos, nao tem jeito, Da Vinci. E vou te dizer que a Monalisa perde em encanto para a “La Belle Ferroniere”. Gostei muuuito das esculturas, algo que costumo deixar de lado em outros museus. “Dirce”, de Bartolini (foto 1 e 2), “Mercure Enlevant Psique”, de Vries, “Os Escravos”, de Michelangelo, e “Le Trois Graces” ganharam um bom tempo da minha estadia no Louvre.
Terminada a caminhada, decidi ir comer uma baguete ao lado do Pompidou, e encarar o topo do Centro Cultural. Porem, para ir ao topo é preciso pagar os 10 euros do museu, e como corro o risco de ficar sem nenhuma libra para entrar em Londres nesta quinta, e nao conseguiria ver mais obras de arte apos cinco horas de Louvre, deixo a visita ao Pompidou para o ano que vem, com a Lili. Mesmo assim, me aventurei no lugar admirando suas cores (os canos verdes sao para agua, vermelhos para eletricidade, e azuis para ar-condicionado) e a disposicao das salas de leitura.
A sensacao que tenho ao chegar ao hotel – apos, ainda, passar pelo shopping subterraneo Forun de Halles, com uma Fnac de tres andares abaixo da rua – é de que precisarei vir ao Louvre ao menos mais umas dez vezes para aproveita-lo da forma que ele merece. Foi uma otima primeira vez, mas ate os meus 100 anos espero pisar neste lugar sagrado quantas vezes mais conseguir. Sorrio lembrando que, frente a encantadora Venus de Milo, pensei como era lindo o fato de que uma das mulheres mais fotografadas do mundo nao tivesse os dois bracos. E ela sorriu pra mim, tenho certeza.
Bem, chegou a hora, e esse é o meu ultimo dia em Paris. E, detalhe, acabou o dinheiro. Mesmo. Tudo bem, estou em Paris e tenho um bilhete orange. Vou ate a Shakespeare and Co, a livraria em que a Celine reencontra o Jesse em “Antes do Por-do-Sol”, e vou tentar refazer de cabeca o caminho que eles fizeram no filme. Se eu conseguir chegar ate o cafe, paro, peco um expresso, e me dou por feliz. Se nao encontrar, tudo bem, eu ainda vou voltar a ver essa cidade. Paris, eu volto. Me espere.
Fotos da viagem e dos shows: http://www.flickr.com/photos/maccosta
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