Música: “Weezer (Red Album)”, Weezer
Não existem fórmulas de sucesso. Se existissem, calhordas (esses existem aos montes no showbusiness) ficariam recriando a mesma música por anos e anos consagrando a fórmula que os colocou, em seus 15 minutos de fama, no topo em algum momento de suas vidas. Felizmente, não é assim. Recriar e/ou reinventar-se é para poucos, mais precisamente para aqueles que realmente tem alguma coisa a dizer. É isso que coloca bandas que sempre fazem/fizeram “o mesmo tipo de som” – como Ramones e Motorhead – de um lado e os meros recicladores de outro.
Assim que entra o riff de “Troublemaker”, faixa que abre o sexto álbum do Weezer, a lembrança de outros riffs – alguns clássicos – do próprio grupo entorpece a memória. Não é só. A própria capa sugere um déjà vu: o nome da banda sobre a cabeça dos quatro músicos que posam a frente de um fundo em cor lisa, sem contraste. Eles já tinham feito a mesma brincadeira via “Blue Album” em 2001, quando lançaram o “Álbum Verde”, e agora, novamente sete anos depois, reprisam o expediente usando o vermelho. Mais um capítulo da novela “nós vamos fazer a mesma coisa o resto de nossas vidas”? Eles querem que você pense isso.
Com dezesseis anos nas costas, o Weezer poderia muito bem ter se transformado em um dinossauro do rock (tal qual o Oasis), mas Rivers Cuomo parece se divertir quando se veste de roqueiro, o que parece ser para ele um passatempo antropológico. Não à toa, um dos motivos do silêncio de três anos entre “Make Believe” (2005) e “Red Album” foi o retorno de Rivers Cuomo à Universidade de Harvard para completar seus estudos, algo tão antirockandroll que poderia funcionar contra a reputação da banda, mas é bom lembrar que Cuomo não é um rock star comum (um rock star comum nunca escreveria “Tired of Sex” no auge do sucesso de sua banda).
Não ser um rock star comum concede a Rivers Cuomo a liberdade criativa que atesta aquilo que muitos chamam de insanidade (outros, eu incluso, preferem um termo mais ousado: maturidade): lançar um disco que é Weezer sem ser Weezer. Na prática é isso. Na teoria é o seguinte: “Red Album” é sobre envelhecer em uma banda de rock e continuar fazendo o que der na telha. Idéia grandiosa que a pluralidade do repertório sugere, mas que esbarra na execução/produção. O tal riff de “Troublemaker” que abre o disquinho assim como seu primeiro single, a power pop chiclete “Pork and Beans”, tem uma função enorme no lançamento: dizer aos fãs que apesar das outras oito canções que compõe o lançamento, este é um disco do Weezer sim (a capa ajuda a reforçar isso).
As duas canções conseguem seu intento com louvor. Apesar do clima power pop, “Troublemaker” soa rancorosa e irônica. Fala de moleques que odeiam livros, abandonam a escola, montam bandas de heavy metal, levam as meninas pra cama, e posam de agitadores. “Pork and Beans” é um dos hits do ano. Nela, o personagem desiste de fazer parte do clube dos politicamente corretos, de seguir aqueles que ditam o que está na moda. Na melhor parte da letra, Rivers sacaneia: “Todo mundo gosta de dançar uma música feliz / Com um refrão e uma batida pegajosa / Timbaland conhece o jeitinho / para chegar ao topo das paradas / Talvez se eu trabalhar com ele / Possa aperfeiçoar a arte”.
Das outras oito canções, três são escritas e cantadas pelos outros membros da banda. O guitarrista Brian Bell comparece com “Thought I Knew”, um power pop menor, de produção descuidada e pouca empolgação. Estranha, “Cold Dark World” é cantada/rapeada pelo baixista Scott Shriner. Já “Automatic” traz o baterista Patrick Wilson para o microfone, e faz lembrar a aproximação do grupo com o rock farofa em “Maladroit”. Nenhuma das três canções tem brilho próprio, e estão ali muito mais para preencher espaço do que para dar unidade ao disco, que por elas e, principalmente pelos quatro b-sides da edição de luxo, sugere um relaxamento na produção, transformando em lançamento oficial um punhado de canções inacabadas.
Apesar do descuido com boa parte do repertório, salvam-se algumas outras canções da safra de Rivers Cuomo, faixas malucas que ouvidas isoladamente podem confundir a cabeça da audiência. É o caso da épica “The Greatest Man That Ever Lived (Variations On A Shaker Hymn)”, seus quase seis minutos de duração e suas dez variações de ritmo (isso mesmo). “The Greatest” começa suave com piano, tem bateria de fanfarra no meio, vira rap, hardcore, progressiva e o escambau. Rivers até “canta” em falsete, e quer saber: o resultado é divertido. “Dreamin’” começa Weezer puro e segue assim até seu break, no meio, onde recebe passarinhos e a visita espiritual de Brian Wilson. Bacana.
“Heart Songs” surge como uma (deliciosa) baladinha acústica que vai num crescendo contagiante enquanto Rivers vai listando os artistas que o influenciaram, de Cat Stevens, Joan Baez e Bruce Springsteen, passando por Slayer, Quiet Riot, Iron Maiden e Debbie Gibson até chegar em “Nevermind”, o disco que fez com que ele e seus amigos fossem para a garagem compor suas próprias canções, que tempos depois iriam tocar nas rádios. Completam o álbum “Everybody Get Dangerous” (outra com vocal de rap) e a rock ballad “The Angel And The One”. Os quatro lados b da edição especial (”Miss Sweeney”, “Pig”, “The Spider” e “King”) ou mesmo a cover do The Band (”The Weight”) funcionam mais como curiosidade e/ou completismo do que por qualidade.
Ok, numa conta tola daria para dizer que metade do disco é boa e a outra metade nem tanto (esqueça os b-sides). Na verdade, e em apenas um adjetivo, “Red Album” soa preguiçoso (não confunda com simplicidade). Mesmo assim é superior tanto a “Maladroit” quanto a “Make Believe”, e só fica devendo ao disco verde (os dois primeiros estão em outra escala, a dos clássicos). Se pensarmos que o “Green Album” já era inferior ao “Blue Album” (apesar das quatro canções matadoras que abrem o disco), a expectativa para o “Orange” (escolha a cor que você quiser, caro leitor) não é das melhores, mas se a cada três anos eles aparecerem com uma “Pork and Beans” já está valendo. Não existem fórmulas de sucesso, mas o Weezer – e Rivers Cuomo – está do nosso lado da força. Ainda bem.
“Weezer (Red Album)”, Weezer (Geffen)
Preço em media (importado): R$ 40 (edição simples) R$ 60 (edição deluxe)
Nota: 7
junho 3, 2008 No Comments
Azarar na W3
Nem gosto dessa música. No disco de estreia do Little Quail, as minhas preferidas sempre foram “Essa Menina”, “Aquela”, “Família Que Briga Unida Permanece Unida” e a cover de “Samba do Arnesto”, mas assim que pisei em Brasília e vi a placa, a música não desgrudou o fim de semana inteiro: “agora é minha vez, vou te azarar na W3?. No final do domingo, porém, eu fazia uma versão pessoal na cabeça: “agora é minha vez, asa sul, bloco 203 308?. Bobagens.
Brasília mexe com você. Conheci poucas cidades na vida que me intimidassem tanto. Lili e Palandi, nosso excelente guia em terras candangas, toda hora perguntavam: “E ai, gostou da cidade?”. E eu saia com uma evasiva. Para Lili é fácil se apaixonar por Brasília. No domingo comentei que se o sonho de todo jornalista era ter sua própria revista, o sonho de todo arquiteto era planejar uma cidade inteirinha, do zero, como Brasília. Já o Pala, bem, ele nasceu em Brasília, mesmo sem ter nascido lá.
Pareceu-me tudo germânico demais (e Berlim me intimidou também): o eixão enorme como uma “autobahn”, aquelas longas avenidas, a ponte JK, as superquadras, as casas iguais em um emblemático conceito socialista. Tudo lindo demais, mas também certinho demais. E preciso confessar que tenho medo das coisas que tentam ser certinhas demais. Mesmo assim, por mais que eu tente relutar, não há como não se apaixonar por essa cidade de concreto e obras de arte disfarçadas de prédios.
A Catedral (foto acima) é linda. O novo Museu é impressionante. O eixo monumental é realmente monumental. Entramos no Congresso Nacional e, de quebra, pegamos uma visita guiada que nos levou a Câmara e ao Senado (pela TV parece tão grande, mas é um espaço tão pequeno). Palandi, com uma paciência enorme e uma paixão pela cidade maior ainda, nos levou de lá pra cá, daqui pra lá, mostrando superquadras, os palácios, situando as curiosidades.
No final do domingo, depois de um belo almoço no Xique Xique (restaurante de comida nordestina que nos abasteceu de uma ótima carne de sol com feijão de corda, arroz, farofa de carne, mandioca cozida que quase derretia na boca, cachaça e chopp escuro), caminhamos até a 308 da Asa Sul, e confesso que fiquei balançado pelo lugar. Para Lili, ali na 308 seria um lugar perfeito para criar os filhos. Ainda tenho as minhas dúvidas, Brasília me intimida, mas cheguei a visualizar a Júlia correndo pelo parquinho… quem sabe.
Ps. Fizemos quase todos os passeios de dia, e posso estar errado, mas Brasília e seus monumentos devem ser conhecidos à noite. Fica para a próxima.
junho 3, 2008 No Comments