Posts from — maio 2008
Wander Wildner ao vivo em SP
Um show de Wander Wildner é diversão garantida. Apostando em seu “espanhol selvagem” (uma evolução natural do portunhol desenvolvido por milhares de brasileiros América do Sul a fora), o ex-punk brega apresentou sua nova persona, o Gonzo, para o público paulista na última quinta-feira, data que marcava o lançamento oficial de “La Cancion Inesperada”, quinto disco de originais do bardo gaúcho, produzido pela dupla Berna e Kassin.
A diversão que Wander proporciona em seus shows é algo bem raro de se encontrar em hoje em dia. Ela parte da premissa que show é um local para se encontrar amigos, beber cerveja (no meu caso, chopp escuro) e cantar refrões atrapalhados e surreais que ousam definir o amor (”Hippie, Punk, Rajanesh”, “Um Bom Motivo”), cantar a solidão acompanhada de uma garrafa (”Bebendo Vinho”) ou viajar pela América do Sul em uma maverikão (”Rodando El Mundo”).
Nesta noite em especial, além de algumas doses de canções/versões novas (a faixa título, “Mares de Cerveja”, “Winona”, “Os Pistoleiros”, “Amigo Punk”, “Sandina”), o set final foi de impressionar o mais árduo fã do roqueiro gaúcho. Acompanhado de um duo de metais, Wander fez da choperia do Sesc Pompéia um salão de baile com versões samba dos hits “Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro” e “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo”. No bis, pra fechar, “Lugar do Caralho” em versão soul blues. Foooda.
maio 17, 2008 No Comments
“My silence is in vain”
“My Secret Is My Silence”, Roddy Woomble
If you never leave the highlands
like you’re drowning under rain
and your sadness tastes like whiskey
and my body breathes the same
and ill drain my wisdom empty
just to feel that space again
but you know nothing is outside
and my secret is my silence
my secret is my silence
and my silence is in vain
im sick of living in these buildings
that were built from blood and rain
and from the warm side of the window
the views always look the same
but your face it held the stories
full of dreams it can contain
but you know nothing is outside
and my secret is my silence
my secret is my silence
and my silence is in vain
but you know nothing is outside
and my secret is my silence
my secret is my silence
and my silence is in vain
and you held on to a country
from the cail yard to the grave
and you spoke in quickly written verses
hidden in your gaelic name
to approach land without a harbour
to find your way home
you approach land without a harbour
to find your way home
maio 17, 2008 No Comments
Conta maluca
Conversando com um amigo, logo após ele comentar algo sobre São Thomé das Letras, brinquei que era a minha segunda casa. Automaticamente me veio à mente uma conta maluca dos lugares que eu mais estive em minha vida, cidades mesmo. Em um chute aproximado (somando várias viagens), seria isso:
25 anos em Taubaté
10 anos em São Paulo
01 ano em São Bernardo do Campo
50 dias em Pindamonhangaba
50 dias em Ubatuba
40 dias em São Vicente
40 dias no Rio de Janeiro
30 dias em São José dos Campos
25 dias em São Thomé das Letras
20 dias em Campos do Jordão
20 dias em Porto Alegre
15 dias em Bernardino de Campos
15 dias em Vitória
15 dias em Parati
10 dias em Buenos Aires
10 dias em Curitiba
10 dias em Uberaba
Já passei seis dias em Belo Horizonte e em São Pedro do Atacama, cinco dias em Maceio e em Santiago, e vou conhecer Brasília no fim do mês (só três dias).
Ps. Falando em viagem, passagens compradas. Entre 02 de julho e 06 de agosto, este blog será escrito de terras européias. Frio na barriga, pouca grana e procura constante por melhores preços de passagem, albergues e/ou hotéis (seeeeempre). Os grandes trechos neste momento em aberto são Bruxelas/Glasgow (devo ir de Ryanair), Glasgow /Madrid e Madrid/Paris. As coisas estão se ajeitando.
maio 14, 2008 No Comments
Música: “Songs In A&E”, Spiritualized
Jason Pierce acredita na redenção através da música. Mais de dez anos atrás, quando o britpop começava a exibir os primeiros sinais de declínio, Pierce colocou nas lojas via Spiritualized – banda que formou em 1990, assim que seu Spacemen 3 foi para o espaço – um álbum cuja capa emulava uma caixa de remédios, o CD vinha embalado tal qual um comprimido, e o encarte, como uma bula, prescrevia: “Spiritualized deve ser usado no tratamento do coração e da alma”.
“Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space” (1997), terceiro disco do Spiritualized, bateu na quarta posição do chart britânico e vinha embalado na idéia de que o álbum havia sido feito para selar o fim de relacionamento do compositor com sua tecladista – e ex-namorada – Kate Radley, que havia se casado secretamente com Richard Ashcroft, vocalista do The Verve. Pierce nega a inspiração, mas “Broken Hearts” entrega: “Estou chorando o tempo todo/ e tenho que disfarçar com um sorriso/ Deus eu tenho um coração partido”.
“Songs In A&E” é o sexto álbum do Spiritualized, e quebra um silêncio de cinco anos sem material inédito. Jason Pierce (aka J. Spaceman) estava com o repertório do disco praticamente pronto quando foi internado em estado grave com pneumonia dupla. Apesar de grande parte das canções já estar pronta, o hospital inspirou o conceito e o título de “Songs In Accident and Emergency”, setor próximo da nossa conhecida unidade de terapia intensiva (”Songs in UTI” poderia ser um bom título nacional).
Partindo do pressuposto que a inspiração do álbum nasceu em uma cama de hospital, normal esperar que o repertório seja pesado, tristonho, carregado de referências à morte, certo. Mais ou menos. As referências até estão ali (funerais, o calor, estado de coma, visita de anjos, igrejas), mas a confrontação com a morte fez Pierce colocar os pés no chão e buscar no gospel, nas harmonias vocais, e nas orquestrações uma maneira de soar… vivo.
Para construir sua epopéia de recuperação, Pierce pincelou doze canções intercaladas por seis faixas instrumentais e fez delas pequenas sinfonias. “Sweet Talk”, a primeira, é uma faixa grandiosa de visão chapada por remédios: “Você tem a fala doce como a de um anjo, e está dirigindo este cego”, canta Pierce. “Death Take Your Fiddle”, uma das mais densas, teve a voz gravada na cama do hospital, e diz entre sons de respiração: “Acho que vou beber para entrar em coma / Mas, morfina, codeína, whisky / eles não alteram a forma como me sinto agora com a morte me rondando”.
“I Gotta Fire” rompe o drama da faixa anterior com guitarras que lembram Primal Scream e BRMC e é a primeira das três faixas seguidas do álbum que trazem o fogo como elemento visual. A seguinte, “Soul On Fire”, é o primeiro single. Co-escrita por Daniel Johnston, a canção traz um refrão tão lírico, tão rico em melodia que poderia ser estendido até o final do álbum que ficaria tudo bem. Só imagine a cena: “Começou um furacão em minhas veias e eu quero que fique para sempre”. Respiração profunda. “Sitting on Fire”, movida a violões preguiçosos, também foi registrada na cama do hospital.
O silêncio é quebrado novamente pelos rocks. “Yeah Yeah” lembra algo de Bob Dylan enquanto “You Lie You Cheat” clama por liberdade em clima de garage rock. “Baby, I’m Just A Fool” é o épico do álbum com seus mais de sete minutos de duração (o solo de órgão, no meio da canção, é de chorar). Seguem-se a baladaça “Don’t Hold Me Close”, a espacial “The Waves Crash In” (com seu arranjo encantador), a estranha “Borrowed Your Gun” (suave como um sonho… ou um pesadelo: “Papai, me desculpe / Peguei emprestado sua arma de novo / E atirei em mamãe / A bela mamãe”) e, pra fechar, “Goodnight Goodnight”, balada acústica de ninar apaixonados, loucos ou doentes.
Jason Pierce acredita na salvação através da música. Seja pelo mal do amor, seja por pneumonia dupla, ele limpa as lágrimas do rosto com melodias encantadoras, e faz sonhar inspirado em Phil Spector e Brian Wilson, gospel e rock. “Songs In A&E” não avança no território aberto por “Ladies And Gentlemen We Are Floating In Space” (1997) e ampliado em “Let It Come Down” (2001), mas é um excelente contraponto a fúria de boa parte de “Amazing Grace” (2003). Sobretudo, cumpre uma função já proposta anos e anos atrás pela própria banda: é perfeito no tratamento do coração e da alma. O próprio paciente J. Spaceman que o diga.
maio 12, 2008 No Comments
Três músicas novas
– “Mutantes Depois”, Os Mutantes
Não é para levar à sério, né
– “Rat Is Dead (Rage)”, Cansei de Ser Sexy
Pixies puro. Tirando o descaramento, soa bacana.
– “Violet Hill”, Coldplay
E o Coldplay troca de banda preferida de Liverpool: saem os Bunnymens, entram os Beatles. Não quero jogar úruca, mas por essa canção, “Viva la Vida or Death and All His Friends” pode vir a ser o primeiro grande disco da turma de Chris Martin. Tô até com medo.
maio 12, 2008 No Comments
Atualizando histórias
Na quinta-feira, enquanto o Intensom com Hurtmold e Mamelo Sound System esgotava os ingressos da choperia, me abasteci de dois chopps escuros para assistir ao Wado no teatro do Sesc Pompéia. Uma seleta platéia acompanhou o músico num passeio por seus quatro álbuns, privilegiando o repertório do recém lançado “Terceiro Mundo Festivo” (baixe aqui).
Centrado em programações, teclados, baixo e bateria (com uma guitarra, tocada pelo próprio Wado, eventual), o show destacou canções mais antigas como “Alagou As”, “Uma Raíz, Uma Flor”, “Ontem Eu Sambei” (do “Manifesto da Arte Periférica”) e “Sotaque” (”Cinema Auditivo”). “Tarja Preta” surgiu em uma versão sinuosa, contagiante.
De “A Farsa do Samba Nublado” marcaram presença “Tormenta”, “Grande Poder”, “Alguma Coisa Mais Pra Frente”, “Se Vacilar o Jacaré Abraça” e “Carteiro de Favela” (faltaram – sempre faltam – “Amor e Restos Humanos” e “Deserto de Sal”). Das canções novas, destaque para a pungente “Melhor”, a poderosa “Fita Bruta” e o sambinha “Fortalece Ai”. De extra, um excelente funk proibidão sobre o 11 de setembro. Classe. (mais fotos aqui)
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Na sexta, aniversário de Lili no Veloso. Tomei um banho de caipirinha de frutas vermelhas (acho que a camiseta do Ash não irá sobreviver), mas a turma toda se deliciou com as melhores caipirinhas e coxinhas da cidade (ainda volto para experimentar com calma o bife de tira).
Na volta pra casa pegamos um taxi com Luiz, o equivalente nacional de Jerry Fletcher, o motorista interpretado por Mel Gibson no filme “Teoria da Conspiração”. Se eu tivesse guardado ao menos umas duas ou três previsões que ele nos falou no carro, teria escrito um “cenas da vida em São Paulo”. Coisas assim: O mundo vai acabar em 2022. Na verdade, os Estados Unidos vão acabar, e o Brasil será a maior potência da Terra. Sério.
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Eu planejava ver uns filmes no cinema no fim de semana, mas não rolou. No sábado, só Lost. No domingo, uma amiga ligou convidando para um almoço no Consulado Mineiro, na praça Benedito Calixto. Depois de uma bela refeição (bisteca, torresmo, feijão tropeiro, tutu, couve, farofa de banana – estou ficando com fome de novo) e algumas doses da excelente cachaça Germana, não teve como resistir a voltar para casa e desmaiar na cama. Vontade de ficar a semana inteira debaixo do edredom, mas a gente tem que trabalhar, né mesmo. :/
maio 12, 2008 No Comments
A primeira nota 1…
…a gente nunca esquece:
Para “Anywhere I Lay My Head”, estréia como cantora da atriz Scarlett Johansson. Aqui.
Eita disquinho safado!
maio 8, 2008 No Comments
Cinema: “Três Vezes Amor”
“Três Vezes Amor”, de Adrian Brooks – Cotação: 3/5
Will está passando por um processo de divórcio. Em meio a papelada que marca o fim jurídico do relacionamento, Will tem que lidar com a insatisfação de um emprego que não o faz feliz e com os questionamentos de sua filha sobre sexo, pênis invadindo vaginas (isso mesmo) e o milagre muitas vezes não esperado da procriação. Maya, a filha, passa dois dias da semana com ele, e está decidida a saber o que motivou sua vinda ao mundo. Deste argumento batido nasce uma das melhores comédias românticas em muito, muito tempo.
Maya (a “Pequena Miss Sunshine” Abigail Breslin em excelente atuação) não poupa Will (Ryan Reynolds bastante convincente) e quer dele a verdade sobre a natureza de seu nascimento. Will, por sua vez, propõe uma brincadeira para a filha: ele irá contar detalhadamente suas principais desventuras amorosas trocando os nomes das protagonistas para que a filha descubra quem é sua verdadeira mãe em meio aos romances que abalaram (e ainda abalam) seu coração.
Voltamos para 1992 e entram em cena Emily (namorada da faculdade que ficou no interior quando Will foi batalhar a vida na Big Apple), April (amiga que trabalha no mesmo lugar que Will, o escritório em Nova York da campanha do então candidato presidencial democrata, Bill Clinton) e Summer (amiga de Emily que mora em Nova York e namora seu orientador de tese – Kevin Kline em uma ponta inspiradíssima). Estas três mulheres (os três amores do clichezado título nacional) valem o filme. Ok, três mulheres e meia.
Emily (Elizabeth Banks) não consegue acompanhar os sonhos do namorado, e por insegurança acaba por cometer um clichê romântico. April é apenas a menina da copiadora, que está ali porque pagam bem, não por Bill Clinton (o que já rende ótimas gags). Além, é sempre a mulher certa na hora errada. Já Summer (um looooooongo suspiro para Rachel Weisz) é o tipo de mulher deslumbrante que Will nunca imaginaria namorar, quiçá casar. Nosso herói irá passar poucas e boas nas mãos destes três deliciosos arquétipos do sexo feminino.
Um dos grandes trunfos de “Três Vezes Amor” é a esperteza do roteiro. Escrito e dirigido por Adrian Brooks (que assinou o segundo Bridget Jones), “Três Vezes Amor” constrói pequenos núcleos narrativos que se intercalam a perfeição durante os 105 minutos do filme. Will conta a história para Maya, que vai anotando tudo. A grande sacada do roteiro é não glamurizar os personagens. São pessoas comuns vivendo histórias de amor comuns. O pano de fundo (da eleição presidencial de Clinton até o caso Monica Lewinsky) serve como uma deliciosa metáfora para a história, que ganha profundidade sem perder a simplicidade.
A trilha sonora também é bem cuidada. O título original lhe diz alguma coisa: “Definitely, Maybe”? Não há nenhuma música do Oasis na trilha, mas o primeiro nome de pessoa que surge na tela é o da professora Gallagher. Não pode ser à toa. Como voltamos para 1992, R.E.M. e Nirvana entram de trilha sonora (”Quem é Kurt Cobain?”, pergunta o politizado Will em certo momento para uma amiga), mas há também espaço para Otis Redding, Massive Attack e Sly and The Family Stone.
Entre idas e vindas, “Três Vezes Amor” convence com seu charme sonhador, seu roteiro pontual e sua dose de açúcar no ponto certo. Críticos sérios e aficionados por cinema costumam desdenhar comédias românticas sem se atentar que mesmo os grandes diretores (Billy Wilder à frente) já se renderam – e criaram pequenos clássicos – ao estilo. Porém, duas décadas de Meg Ryan serviram para traumatizar grande parcela do público (se fossem só “Harry & Sally” – a comédia romântica definitiva – e “Sintonia de Amor”). Dica: deixe o preconceito de lado e encare de frente está “arid comedy” estilizada, um dos melhores filmes do gênero desde o divertidíssimo “O Casamento do Meu Melhor Amigo”. E aprenda: o amor não é uma questão de quem, mas sim de quando.
maio 8, 2008 No Comments
Poderia ficar melhor?
Sempre pode:
Morrissey confirmou presença no festival de Benicàssim, esse do post anterior.
Estou… sem palavras!
maio 8, 2008 No Comments
Música: “Dig!!!, Lazarus, Dig!!!”, Nick Cave
Segundo os Evangelhos, Lázaro teve a sorte de ser o protagonista de um dos milagres mais impressionantes de Jesus Cristo. Ele adoeceu gravemente e duas de suas irmãs – Marta e Maria – enviaram com urgência um mensageiro ao encontro de Jesus com a seguinte mensagem: “Aquele a quem você ama está doente”. Aos seus discípulos, porém, Jesus disse que Lázaro apenas dormia, e seria acordado. Depois de quatro dias morto, Lázaro foi ressuscitado milagrosamente e visto pela multidão que contemplou o fato.
Desde sua infância que Nicholas Edward Cave se impressiona – e se assusta – com a história do homem que ressuscitou após quatro dias. Num misto de medo e admiração, essa história ressurge para embalar o clima do décimo quarto álbum do músico australiano, mais um na companhia das Sementes Más (o segundo sem Blixa Bargeld e o primeiro após o barulhento projeto paralelo Grinderman, que sacudiu os porões no ano passado). Quer saber: Nick Cave envelhece como vinho, e aos 50 anos coloca nas ruas um dos melhores álbuns de sua carreira consagrada.
O disco abre com Nick Cave clamando na faixa título para que Lázaro cave (sem trocadilho, risos) um buraco e volte para o túmulo enquanto o bardo conta a história de Larry, um rapaz de Nova York que passou pela fila da sopa, pela delegacia, pelo manicômio e, por fim, terminou no cemitério. Uma bateria calma e limpa carrega a canção enquanto a guitarra base castiga o mesmo riff e outras guitarras entorpecidas de feedback maltratam a melodia ferozmente. O pop e o rock se unem e saem de mãos dadas cantando o refrão sagrado: “Cave, Lazaro, cave”.
“Today’s Lesson” é mais do mundo absurdo de Nick Cave. O baixo de Martyn Casey surge numa linha dançante enquanto a guitarra envenena a melodia novamente. Os violões assumem a condução da melodia e, lá pelo meio, um belo solo de órgão aconchega a pequena Jane, que está sendo molestada pelo senhor dos sonhos em seu próprio sonho. “Moonland” chega freando o ritmo acelerado das duas faixas anteriores em clima blues enquanto o refrão avisa: “O DJ está sussurrando no rádio: Eu não sou seu amante favorito”. No entanto, ele precisou seguir o carro e flagra-la no banco de trás…
“Night of the Lotus Eaters” é totalmente fantasiosa e climática enquanto “Albert Goes West” é uma porrada à la Grinderman em que Cave avisa (enquanto outros fogem) que vai continuar onde sempre esteve, pois gosta desse lugar (Albert vai para o oeste, Henry para o sul e Bobby para o norte). “We Call Upon The Author” é outra maluquice genial retirada da cabeça de Cave em parceria com Warren Ellis (que toca viola, drum machine e os loops da canção). Em “Hold On To Yourself”, uma das grandes canções do álbum, Nick Cave volta a citar o predileto de Jesus. “Lie Down Here (And Be My Girl)” é outro dos rockões do álbum jogando testosterona no colo de uma garota.
Após a tempestade sônica da faixa anterior, “Jesus Of The Moon” surge como um alívio em seu formato de balada jazzy atormentada e abre a porta para a parte final do álbum de forma suave através de “Midnight Man” (um rock lento que cresce no refrão) e “More News From Nowhere”, a faixa épica do álbum com seus quase oito minutos de duração que parecem querer transformar em música a loucura do filme “Inland Empire”, de David Lynch, com o personagem contando: “Eu ando no canto do meu quarto / Vejo meus amigos nos lugares elevados / Não sei qual é qual nem quem é quem / Roubaram suas faces”. A melodia segue estática, sem grandes alterações de humor até o final.
“Dig, Lazarus, Dig!!!” consegue unir o improvável: barulho e calma. Muito do mérito dessa conquista vem de Nick Launay, produtor que já havia trabalhado com Nick Cave no Grinderman e nos dois (se você quiser, três) álbuns anteriores do bardo australiano, o bom “Nocturama” (2002) e os excelentes “Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus” (2004). Parece que Launay e Cave encontraram definitivamente o ponto certo na produção de bons álbuns, e “Dig, Lazarus, Dig!!!” é a prova. A Bad Seeds, uma das melhores bandas de acompanhamento de um artista no mundo, também merece louros em um álbum que mostra que quanto mais o tempo passa, mais Nick Cave melhora.
maio 6, 2008 No Comments