O segundo álbum do Raconteurs
Ok, você tem um encontro com Angelina Jolie (ou George Clooney, conforme a preferência do leitor ou leitora). Você se prepara. Pensa e repensa tudo o que vai falar, se arruma, e chega ao local do crime transpirando excitação e desejo. Só que quando você chega ao lugar, descobre que Angelina não pôde ir, e quem está lhe esperando é Scarlett Johansson (ou… Colin Farrell, se você havia optado pelo Clooney). Por mais que Scarlett Johansson seja uma musa e tal, você estava preparado para encontrar Angelina. Se as coisas não forem bem no encontro, a culpa será de quem: da Angelina, da Scarlett ou de você mesmo?
A coisa funciona mais ou menos assim: quando o Raconteurs surgiu – na base de brincadeira de amigos – trouxe consigo a idéia de que Jack White e Brendan Benson iriam unir suas principais paixões (por Led e Beatles, respectivamente) e parir grandes canções a partir dessas influências, meio a meio. “Consolers of The Lonely”, segundo álbum do quarteto (que ainda conta com a “cozinha” do Greenhornes, Jack Lawrence no baixo e Patrick Keeler na bateria) joga meia pá de cal sobre essa idéia com Jack White colocando-se a frente do grupo e posando de guitar hero com solos altos e rápidos em boa parte da duração do álbum.
Não que não haja baladas, punk songs e experimentações em “Consolers of The Lonely”. Elas estão lá, e por sinal rendem alguns dos melhores momentos do álbum, mas na maior parte do disco o que se ouve é rock barulhento com influências de Led Zeppelin, The Who e Jimi Hendrix chegando até a emular os solos que fizeram a fama do New Wave of British Heavy Metal (saca aqueles duelos com duas guitarras solando, com uma delas “uma oitava” a cima da outra? Isso). “Consolers of The Lonely”, mais ainda do que a estréia (”Broken Boy Soldiers”) é um disco de – muitas – guitarras. Ponto.
Com base nas guitarras temos a faixa título (que abre o álbum com riffs fortes – no esquema bate/assopra – que acompanham a melodia vocal no refrão e ainda solam “a capela”, como em “Heartbreaker”, do Led), o primeiro single “Salute Your Solution” (acelerado, com baixo atolado no fuzz, e Jack e Brendan dividindo os tempos vocais), “Five On The Five” (com solo de guitarras Iron Maiden), “Holp Up”, “Attention” (com teclados fazendo gracinhas na saída direita das caixas de som), “Old Enough” (que começa folk, e vira um ótimo country rock à la Crosby, Stills, Nash and Young), “Top Yourself” e “Rich Kid Blues”.
É Jack White quem canta a primeira balada do álbum, “You Dont Understand Me”, com Brendan Benson engrossando o coro no refrão. Benson se dá melhor na empolgante “Pull This Blanket Off”, baladinha de menos de dois minutos que tem jeito de jam session e merecia durar bem mais. “The Switch And The Spur” surge para tomar para si o posto de grande canção, e impressionaria mais se o White Stripes não tivesse “descoberto” os metais em “Conquest”. Mesmo assim a canção merece o posto. “Many Shades Of Black”, outra que também conta com metais, é uma baladaça anos cincoenta que vai fazer você assoviar a melodia do refrão (ou dançar de olhos fechados bêbado numa pista vazia). E quando falarem em Dylan ao se referirem a (ótima) “Carolina Drama”, esqueça a comparação e vá direto à fonte.
Mais do que exibir sua qualidade através das guitarradas e dos solos estridentes, “Consolers of The Lonely” (e o próprio Raconteurs) precisa sobreviver a expectativa daqueles que esperavam um disco menos porrada (menos Jack White) e mais melódico (mais Brendan Benson). Entre a força melódica de um e a opção pelo barulho do outro, “Consolers of The Lonely” pende mais para o segundo, e não deixa de ser um bom álbum de rock – excessivamente setentista – por isso, mas permite possíveis críticas quanto à falta de originalidade do som do grupo (quanto tempo Jack White vai demorar para parar de emular seus ídolos e ser Jack White?) e seu apreço em soar retro.
Voltando ao problema exposto no primeiro parágrafo, quem se preparou e esperava encontrar Angelina Jolie, terá que se contentar com Scarlett Johansson (e há ainda o fato de que muitos vão preferir a segunda à mulher de Brad Pitt), ou então voltar para casa e dormir sozinho. Se “Consolers of The Lonely” ainda não é o disco que muitos esperavam do Raconteurs, tem o mérito de ser um bom álbum de rock and roll. Para alguns pode ser pouco. Então, Scarlett, sorry, mas fica para a próxima.
“Consolers of The Lonely”, Raconteurs (Warner)
Preço em media: R$ 30
Nota 7
Leia também:
– “Broken Boy Soldiers”, do Raconteurs por Marcelo Costa (aqui)
– “Conquest”, The White Stripes, por Marcelo Costa (aqui)
– “Live At Maida Vale”, The White Stripes, por Marcelo Costa (aqui)
– Jack White 1 x 0 Marcelo Costa, por Marcelo Costa (aqui)
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