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A melhor “scottish band” do momento

O ano de 2008 começa a toda e a melhor notícia pop vem da Escócia (e não é a volta aos estúdios do Jesus and Mary Chain). “This Gift”, segundo álbum dos Sons and Daughters, consegue o que parecia ser impossível: soar melhor que a brilhante estréia com “The Repulsion Box”, lançado em 2005 (que ganhou edição nacional pela Trama). O nível alcançado pelo quarteto (comandado pela voz forte e cativante de Adele Bethel) surge da exploração de extremos. “This Gift” é mais visceral e, ao mesmo tempo, mais pop que “The Repulsion Box”. Da contradição surge um álbum poderoso.

A primeira grande mudança entre o primeiro e o segundo álbum surge no modus operandi do quarteto. No verão de 2006, Adele Bethel (vocais, guitarra e piano), David Gow (bateria e percussão), Ailidh Lennon (baixo e piano) e Scott Paterson (vocais e guitarra) se mudaram para a vila de Adfern, na costa oeste da Escócia, e se desligaram de tudo. Sem televisão, sem telefones, mas com filmes antigos e discos idem, o quarteto começou a trabalhar nas canções que iriam compor “This Gift”. Após inúmeras audições de Smiths, a banda decidiu tomar um rumo diferente da estréia a partir do produtor: sai Victor Van Vugt (que havia produzido o álbum de estréia e trabalhado com PJ Harvey e Nick Cave) e entra Bernard Butler, ex-guitarrista do Suede.

A troca de produtor foi fundamental na formação do som que o quarteto buscava, mas isso não quer dizer que “This Gift” rompe com “The Repulsion Box”. Há, ainda, melancolia, drama, uma nuvem negra que parece pairar sobre o horizonte de cada canção. Esse pseudo darkismo natural caminha de mãos dadas com a paixão do grupo pelas girl groups dos anos sessenta, e o resultado é um som mais forte, focado e condensado que, por exemplo, o do Raveonettes, que parte da mesma premissa, mas se vê encurralado em uma reverência assustadora (ao Jesus and Mary Chain e a Phil Spector).

Se “The Repulsion Box” e, principalmente, o EP “Love The Cup” (2004) soavam como folk-punk-blues, “This Gift” é folk-punk-pop para as massas. “Gilt Complex”, primeiro single, traz uma guitarra empolgante na abertura, um riff de baixo acachapante e Adele cantando uma letra inspirada em “A Bela Adormecida” e na obsessão pela vida das celebridades. É uma daquelas porradas que salvam a pista em uma noite em que tudo está dando errado. “Split Lips” traz um violão Gibson de 12 cordas na abertura, e não precisa de mais de 30 segundos para conquistar o seu coração. Na letra, um cara perde sua garota, e tenta encontra-la.

“The Nest” serve-se de uma batida de bateria lenta, cheia e sincopada para imaginar o que poderia ter acontecido com o personagem principal do curta-metragem “Cathy Come Home” (1966), de Ken Loach. “Rebel With The Ghost” é uma das grandes surpresas do álbum e lembra… Cardigans. É pop para dançar com os braços levantados. “Chains” segue na linha da faixa anterior, praticamente mantendo a melodia do refrão, mas com um intervalo cantado por Scott Paterson que lembra algo que pode ser Smiths, Blur ou Soup Dragons. “This Gift”, a música, retorna ao território demente de “The Repulsion Box” inspirada em Sylvia Plath e Ted Hughes.

O segundo single de “This Gift” é “Darling”, uma faixa que traz Adele testando novas modulações vocais sobre uma batida empolgante cuja letra procura fazer uma conexão entre a personagem de Julie Christie no filme homônimo e as esposas de jogadores de futebol de hoje em dia que querem a fama a qualquer preço. “Flags” é punk e direta com o baixo tomando o espaço da guitarra. “Iodine” é dolorida, fala sobre alguém que quer morrer, e seu título é inspirado no iodo, remédio usado para limpar feridas de auto-mutilação. “The Bell” joga o ouvinte dentro de um relacionamento sufocante enquanto a poderosa “House In My Head” surge inspirada em um poema de Emily Dickinson e “Goodbye Service”, faixa derradeira, reflete o filme “O Mundo Fabuloso de Billy Liar” (1963), de John Schlesinger (que também dirigiu “Darling”) e tudo que fica após a morte de um relacionamento.

Enquanto os integrantes do Franz Ferdinand compõe calmamente o terceiro álbum e o Jesus and Mary Chain se prepara para uma turnê de reunião que deve render um álbum de inéditas, as duas garotas e os dois garotos do Sons and Daughters pedem a sua atenção e podem ser encarados como os escoceses mais badalados do momento. Apesar de ganhar às lojas oficialmente apenas no dia 28 de janeiro, “This Gift” já caiu na Internet e tem como termômetro a boa recepção de seus dois singles: “Gilt Complex” bateu na terceira posição e “Darling” estreou nesta semana na quarta posição do chart indie da parada britânica. Pelo que mostram neste álbum, o Sons and Daughters merece estar entre as grandes bandas escocesas. Se alguma delas bobear (tipo o Franz Ferdinand, já que da cartola do Belle and Sebastian não devem sair mais coelhos), Adele e seus comparsas podem ser alçados a bola da vez e tomados como a principal scottish band da atualidade. “This Gift” pode conseguer isso. Fácil.

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