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Top Ten: 10 shows internacionais

Dias atrás, para justificar meu descontentamento com a fraca temporada de shows deste ano (em comparação com a fartura de anos anteriores), fiz uma listinha com os melhores shows que vi em minha vida, respondendo a um comentário de um leitor, meio como dizendo: “Não sou eu que sou chato, os shows deste ano é que estão muito fracos”. A listinha foi feita em cima da hora, na correria, mas quem leva cultura pop a sério não deve (e não pode) fazer qualquer lista despretensiosamente. A consciência pesa.

E foi assim: acordei na madrugada do mesmo dia em que fiz a primeira lista decidido a fazer uma definitiva. E fiz. Era para ser um Top 10, virou um Top 20, depois um Top 25, em seguida um Top 30 e por fim um Top 50, ou melhor, dois Top 50: um nacional e um internacional. Não foi uma tarefa fácil. Por fim acabei incluindo mais dois Top 10 (isso não tem fim! – risos): um dos shows que eu criei muita expectativa, e me frustei; outro com os shows que eu queria ter visto, mas por algum motivo qualquer, perdi. A lista completa pode ser conferida aqui, mas nas próximas quatro semanas vou resgatar na memória pensamentos sobre cada Top Ten, e publicar um a cada sexta-feira. Pra começar, a lista internacional. E a pergunta: qual foi o melhor show internacional que você viu na vida?

Top 10 Internacional
01) R.E.M. no Rock in Rio, Rio de Janeiro (2001)

Não basta admirar um artista para que ele seja responsável pelo melhor show que você viu na vida. É uma pequena conjunção de fatores que torna um show algo especial. Particularmente, admiro (muito) e já vi ao vivo gente como Brian Wilson, Patti Smith, Neil Young e Echo & The Bunnymen, e apesar deles terem feito grandes shows, nenhum deles está neste Top Ten pessoal. É um preâmbulo necessário para evitar comentários óbvios tipo “esse é o seu show preferido porque você é fã da banda”. Nem sempre as bandas que mais admiramos são aquelas que fazem os melhores shows de nossas vidas. Às vezes são os piores…

Não é o caso do R.E.M. no Rock In Rio 3. O show aconteceu no segundo dia do festival, num sábado, e estava cercado de expectativas. Quando recebi no meio da tarde o set list que a banda iria apresentar mais à noite, fiquei impressionado: era impossível que eles fizessem um show ruim com aquele repertório. O trio havia selecionado um repertório best of para seu show no Brasil, que viria a se tornar o maior público para o qual a banda já tinha se apresentado. Assim que o Foo Fighters encerrou sua apresentação, tratei de arrumar um lugar na “fila do gargarejo” para presenciar o show. E foi… inesquecível.

Michael Stipe estava visivelmente emocionado. O som – que havia derrubado Beck e Foo Fighters – começou ruim, com o baixo à frente dos outros instrumentos, mas em três músicas já estava tudo ok. Daí vieram clássico atrás de clássico: “Fall On Me”, “Stand”, “So Central Rain”, “Daysleeper”, “At My Most Beautiful”, “The One I Love”, “Man on The Moon”, “Everbody Hurts”… Até hoje em dia, quando ouço o CD com o áudio do show, me arrepio quando Peter Buck dispara no bandolim o riff inconfundível de “Losing My Religion”, e ouve-se a massa vibrando (imagine 150 mil pessoas atrás de você gritando insanamente quando ouvem uma das músicas mais lindas já escritas na música pop). No final, “It’s The End” embebida em microfonia e Michael Stipe repetindo “and i fell fine” sem querer sair do palco. Antológico, clássico e inesquecível.

Texto da época especial para a revista Rock Press

02) Page e Plant no Hollywood Rock, São Paulo (1995)
Eu ainda morava em Taubaté, e só consegui ir a esse show porque ganhei o convite em uma promoção do Estadão. O lance era mais ou menos o seguinte: os sorteados se encontravam às 16h na porta do jornal, e um ônibus fretado levaria a turma toda para o estádio do Pacaembu. Claro que a maioria dos ganhadores chegou mais cedo, e a turma foi se conhecendo enquanto biritava num boteco ao lado. Na hora de ir pro estádio todo mundo já se tratava como amigo de infância.

Jimmy Page e Robert Plant chegavam ao Brasil para divulgar o álbum “No Quarter”, baseado em canções do Led Zeppelin e algumas faixas novas. Ao vivo, o repertório do disco que trazia “Kashmir”, “The Battle of Evermore”, “That’s The Way” e “Thank You”, entre outras, recebeu o acréscimo de clássicos como “Imigrant Song” (que abriu a noite), “Heartbreaker”, “The Song Remains The Same”, “Whole Lotta Love” (com Plant inserindo “Light My Fire” e “Break On Throught” do Doors no meio), “Black Dog” e, mama mia, “Rock’n’Roll”.

Além de Robert Plant engasgando para cantar o trecho rápido de “Going To California”, o que permaneceu mais fresco na memória foi o seguinte: após uma versão densa de vários violões para “Gallows Pole”, o palco fica completamente escuro. Permanece assim durante cerca de uns 50 segundos. De repente, as luzes do estádio inteiro se apagam. E surge, cortando a escuridão, o riff poderoso do blues “Since I’ve Been Loving You”. Nada mais a declarar sobre esse show…

03) Elvis Costello no Tom Brasil, São Paulo (2005)
Um show de Elvis Costello no currículo é muito pouco para se falar dele ao vivo. Na verdade, para se falar de um show de Costello e banda é preciso ver, ao menos, quatro apresentações, sendo que em cada uma você fica concentrado em apenas um dos músicos. Ao vivo, ele é acompanhado pelo grupo The Imposters, uma versão atualizada dos Attractions, que como única mudança traz o excelente baixista Davey Faragher no lugar de Bruce Thomas. O baterista Pete Thomas e o tecladista e mago do theremin Steve Nieve estão com Costello desde o início dos tempos.

A banda é tão coesa que fica difícil não se prender a uma linha de baixo por meio minuto para logo em seguida descobrir que Nieve está fazendo alguma maluquice nos teclados ou que o próprio Costello está brincando de guitar hero. O instrumental é tão poderoso que dá vontade de ver o mesmo show várias vezes, para ir colhendo detalhes que possam ter passado despercebidos em uma primeira audição. Costello entregou ao público paulista seu suor, seu melhor repertório em uma execução primorosa. Música da noite: uma versão extensa e violentamente crua de “I Want You”, com citações de U2 (”Ever Better The Real Thing”) e Beatles (”Happiness Is A Warm Gun”).

04) Morrissey no Personal Fest, Buenos Aires (2004)
Antes de abrir a boca, Morrissey reuniu o grupo na frente do público e se curvou em sinal de agradecimento. Suas quatro primeiras palavras: “Cry for me, Argentina”. O local foi ao delírio. Vestido de reverendo, (uma roupa toda preta com um pequeno detalhe branco na gola), Morrissey arrasou com cinismo, clássicos dos Smiths e extremo bom humor. O que dizer de um show cuja segunda música é “How Soon Is Now?”, a quinta é “Bigmouth Strikes Again” e a última (ou décima sexta, como quiseres), “There Is A Light That Never Goes Out”? Ah, teve “Everyday Is Like a Sunday” também…

Texto completo no Scream & Yell

05) Mercury Rev no Curitiba Rock Festival, Curitiba (2005)
Entre o público, pouca gente acreditava que Jonathan Donahue e sua turma conseguissem superar a perfeição indie do Weezer na noite anterior do Curitiba Rock Festival, mas a banda foi além: fez uma apresentação com momentos instrumentais impecáveis, imagens no telão (perfeitamente sincronizadas com as músicas) com citações que iam do filósofo prussiano Arthur Schopenhauer ao piloto norte-americano Michael Andretti; do cineasta Stanley Kubrick, passando por Vladimir Nabukov e Yuri Gagarin até chegar em E.T. e no Mestre Yoda. Inspiradíssimo, o vocalista Jonathan Donahue regeua banda como se fosse um maestro em uma orquestra, cuja batuta fora trocada por uma garrafa de vinho branco. No fim das contas, uma frase no telão resumiu tudo: “O mundo não é feito de átomos. É feito de histórias”. O Mercury Rev fez história em Curitiba.

Texto completo no Scream & Yell

06) The Cure no Ibirapuera, São Paulo (1987)
Meu único show internacional na década de 80, embora eu quisesse (e tivesse tentado) ver outros. A impressão, hoje, é que tudo foi maravilhoso, mesmo com o som estando prejudicado pela péssima acústica do local (embora qualquer acústica fosse melhor que a do TCC, local que abrigava todos os shows nacionais em Taubaté), muito devido ao fato de que era tudo novidade. Claro que não foi só isso. O Cure, quando aportou no Brasil em 87, era uma das maiores bandas do mundo. E Robert Smith estava de muito bom humor. Hoje é impossível cantar “In Between Days” sem soar nostálgico, mas, aos 17 anos, após perambular pela rua matando tempo para aguardar o metrô abrir e voltar pra casa (horas depois), a única coisa que eu conseguia pensar era em assoviar a canção infinitamente.

07) Lou Reed no Credicard Hall, São Paulo (2000)
Ele é aquilo mesmo que você imagina: jaqueta de couro, uma fender jogada elegantemente a sua frente, e um repertório de clássicos que não vão ser tocados no show. E mesmo assim é um show inesquecível. Ele enfia goela abaixo do público uma porção de canções novas – boas, mas sem o brilho das canções do Velvet e de sua carreira solo no início dos anos 70 – e quando você já não está conseguindo mastigar mais, ele saca do bolso “Sweet Jane”, “Dirty Boulevard” e “Perfect Day”, e enfia no meio uma anção nova com cheiro de velha, a bela “Baton Rouge”, e te faz ir sorrindo pra casa.

08) Betty Gibbons no Tim Festival, Rio de Janeiro (2003)
Beth Gibbons, só ela, é um show. A cantora agarra o microfone de um jeito que fica difícil imaginar alguém arrancá-lo de suas mãos. Ela mastiga cada palavra, sente cada sílaba, arrepia quando se encolhe junto ao microfone, parecendo se esconder. E isso acontece praticamente o tempo todo. Ela esbanja carisma tanto quanto timidez. A rotina é quase sempre a mesma. Ela desfia suas letras doloridas. Quando a letra abre espaço para a melodia, a cantora se coloca de costas e toca um singelo pandeiro, acompanhando a bateria. A canção termina, o público aplaude. Alguém grita “Portishead”, e ela, de costas, levanta um copo em sinal de brinde. No final, após toda banda deixar o palco, ela ficou pedindo desculpas pelo seu português, por sua voz. Parecia não ter noção que havia acabado de realizar um dos melhores shows que já passaram pelo País.

09) Sonic Youth no Free Jazz, São Paulo (2000)
Eu não esperava nada desse show. Havia ganho o convite de uma amiga que tinha ficado em casa, e precisou voltar para Porto Alegre na última hora. Sua recomendação: “se eu não voltar pra ver o show, vá você”. E eu tinha medo do Sonic Youth. Achava que seria um show de barulhos e microfonias. Após três dias virando balada, e acordando cedo no quarto dia para uma extensa prova de admissão no saudoso Noticias Populares, cheguei ao Jóquei Clube arrebentado de cansaço. Na hora do show eu só pensava em dormir, mas cada música que surgia me arrastava para frente do palco. Foi um hino atrás do outro. Um sonho em forma de show de rock. Mesmo. Eu sei que para quem viu o show do Claro Que é Rock, anos depois, fica difícil acreditar, mas é sério. Foi um show assustador de tão bom.

10) Pearl Jam no Estádio do Pacaembu, São Paulo (2006)
Eu também não ia nesse show. Acabei convencido por uma amiga, na última hora. Comprei o ingresso na mão de cambista e adentrei ao Pacaembu. Primeira tapa na cara da desconfiança: o carisma de Eddie Vedder é algo impressionante. O repertório foi algo de histórico. Da arquibancada, as cenas mais impressionantes aconteceram logo no começo do show, com o público da pista acompanhando em ondas o crescendo da melodia de “Given To Fly”, e no final, com Eddie Vedder arremessando seu coração para o público brasileiro após exercitar um punhado de frases em português. Emocionante.

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